Julio Martins da Silva – JMS, como assinava seus trabalhos – nasceu em 1893, na cidade de Niterói, RJ. De família pobre, era neto de negros escravizados e filho de trabalhador rural. Aos 29 anos, trabalhava como cozinheiro em um hotel, quando começou a pintar “porque tinha aquela inclinação, gostava (...) via os outros desenhando e ficava interessado”, disse em entrevista à Lélia Coelho Frota (1975, p. 39).
Boêmio e devoto, residia no centro do Rio quando conheceu a tinta a óleo e começou a usar sobre papelão, material que encontrava facilmente à sua volta. Apenas ao se aposentar, com 71 anos de idade, Julio passou a viver exclusivamente da pintura e, então, pode aperfeiçoar seu estilo.
O artista tinha predileção pela cor verde, muito representada em seus jardins harmoniosos. Neles, caminhos floridos, animais pacatos e fontes d’água são o cenário perfeito para casais apaixonados e criancinhas felizes, refletindo uma ordem espiritual que ele buscava por meio de sua arte. Tudo em sua obra é delicadeza, apesar de não ter negado a angústia histórica de seu tempo, conforme Lélia (2005, p.268). Favelado e negro, não poderia deixar de notar a marca da desigualdade, mas não a expressava. Transcendia-a ao compor em jardins a espiritualidade de sua fé, a arte como purificação da vida.
Realizou exposições individuais em galerias de São Paulo e Rio de Janeiro, bem como no MNBA - RJ (1975). Participou da Bienal de Veneza em 1978, ano de sua morte e expôs em Washington (EUA) no ano de 1984.
Laura Olivieri Carneiro
Janeiro 2023