Filho do pintor Emeric Marcier, Tobias nasceu em Barbacena, MG, em 20 de março de 1948. Desde pequeno mostrou-se inventivo e interessado em arte, ajudando seu pai no ateliê e confeccionando seus próprios brinquedos e suas ferramentas. Segundo seu irmão Matias, o artista “brincava só, pegando pedaços de vergalhão de ferro, nos quais batia com um martelo até virarem talhadeiras e ponteiras com que esculpia baixos relevos em tijolos maciços, pedra sabão, madeira etc. Daí saiam patinhos, pássaros e outras coisas, que remetiam à arte rupestre.” (Entrevista oral, 2019) .  

Em 1964, então com 16 anos e autodidata, teve seu talento reconhecido pelo famoso livreiro Trajan Coltescu da Nova Galeria de Arte (no Copacabana Palace), onde expôs seu trabalho escultórico com muito sucesso. Algum tempo depois, passou a dividir sua residência entre o Rio de Janeiro e Barbacena. Desde 1968 Tobias mergulhou na pintura, revelando, igualmente, enorme aptidão e criatividade. Pintava cada vez mais, quase sempre em tinta acrílica sobre tela, com temas figurativos e paisagens oníricas. Nesta época, participou de exposições coletivas nas galerias Irlandini (1969), Montmartre (1970) e Petite Galerie (1972). No mesmo período, fundou,  junto com Hugo Bidet e outros artistas, a Feira de Arte da Pça Gal. Osório, hoje transformada na diversificada Feira Hyppie,  que já não guarda as mesmas características daquela original, quando reunia bons artistas vendendo suas obras. 

Em 1971 surgiu uma encomenda feita pelo arquiteto Edison Musa, de uma via sacra em madeira, realizada para Colégio São Luís, na Av. Paulista, em São Paulo. Sua abnegada dedicação a esta obra “deixou o piso do seu conjugado com 20cm de lascas de mogno dos entalhes” (nos contou Matias, 2019), fazendo Tobias perceber que a escultura demandava grandes espaços, algo difícil para um jovem artista na cidade grande. Além disso, não havia no Rio de Janeiro a abundância de pedra sabão que há em Minas, seu material preferido para esculpir.   

Passou, então, a pintar mais e mais até que, em 1973 realizou a sua primeira exposição individual, na Galeria Bonino, com pinturas expressivas, como a tela “Alegoria da Primavera”, exposta agora na Galeria Evandro Carneiro Arte, dentre outras 44 obras do artista. Em 1974 participou de coletivas na Bolsa de Arte e na Petite Galerie. No ano seguinte, outra mostra individual na Bonino o consagrava como “pintor de narrativas fantásticas” (Antônio Bento, 1973, Catálogo da primeira exposição do artista na Galeria Bonino). Desta feita de 1975, destacamos a apresentação de Roberto Alvin Correa no catálogo da exposição e a obra “Mulher”, também reapresentada aqui. Realizou, ainda, uma individual na Galeria Guignard, em Belo Horizonte (1977), com grande sucesso de crítica e público. 

Apesar da inegável dimensão fantástica em sua obra, Tobias também se caracterizou por retratar cenas e personagens de ruas, festas populares e armazéns do interior do Brasil. Além disso, Walmir Ayala nos lembra que havia nele uma “atenção às vozes primeiras, como seu pai, mas com a liberdade prodigiosa de ter sabido verter esta audição em vocabulário pessoal e renovado...” (Walmir Ayala, 1979, Catálogo da exposição do artista na Galeria B 75 Concorde, sua última em vida).  

Ou seja, Tobias era um pintor com estilo próprio, uma carreira promissora e muitos planos para novos projetos. Em 1982, faria uma nova exposição na Concorde B75 no Rio, uma em Santa Catarina, organizada por George Racz e outras duas na França (Paris e Grenoble), através de seu então marchand Paulo Fernandes, quando uma fatalidade do destino o parou. Faleceu de um infarto fulminante, aos 33 anos. O choque foi tão profundo que só agora, 37 anos depois, seu irmão Matias “teve alma”, como ele diz, para reunir e apresentar ao público suas obras que estiveram espalhadas por coleções ao longo deste período. E escolheu a Galeria Evandro Carneiro Arte para expor 45 trabalhos de Tobias, sendo 28 telas em acrílica, 14 aquarelas e três desenhos. Vale revisitar esse grande artista!   

 

Laura Olivieri Carneiro

Abril de 2019